O Relatório Mundial sobre Deficiência de 2011 nos informou dados assustadores: indica que a taxa de prevalência da deficiência no sexo feminino é de 19,2% de 12% nos homens. Mulheres são menos cuidadas na infância, nos países menos desenvolvidos, e desenvolvem deficiência como consequência de abusos sexuais e partos mal conduzidos. Nas mulheres negras a violência obstétrica é cerca de 30% maior. Isso é claramente violência de gênero
Por Adriana Dias*
II Encontro Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão debaterá Empoderamento Participação e Inclusão Plena de Mulheres com Deficiência Visual.
Apesar da luta feminista reivindicar há muitas décadas todos os direitos humanos como direitos fundamentais de todas as mulheres, as mulheres e meninas com deficiência não vivem em condição de igualdade com as outras pessoas: nem com as outras mulheres, nem com os homens com deficiência. Como ativista do segmento percebo que as mulheres e meninas com deficiência permaneceram invisíveis, tanto para os defensores dos direitos das mulheres como para os defensores dos direitos dos deficientes, e isso ampliou imensamente sua vulnerabilidade.
É comum em grupos feministas eu perguntar acerca da questão das mulheres com deficiência, e presenciar um certo desconforto por parte de todas, por não pensarem no tema, por se darem conta, enfim, de estarem excluindo uma parte significativa das mulheres. E acho incrível isso, por falar de deficiência é falar de corpo, de aceitação, de enfrentamento de um mundo que exige padrões corporais normal/orientados. As feministas que tanto falam do tema ao se esquecerem de nós, mulheres com deficiência se dão conta de como é incorporado o padrão e a narrativa social do corpo que deve ter uma forma adequada. Por outro lado, nos grupos de pessoas com deficiência, o machismo predomina, e é uma batalha falar de gênero, de escolhas, de feminismo, de aborto, de descriminalização do aborto, de liberdade sexual, de direitos sexuais e reprodutivos.
Portanto, mulheres e meninas com deficiência são suscetíveis de experimentar a famosa, mas não menos cruel “dupla discriminação”, que inclui a violência baseada no gênero, abuso e marginalização e o capacitismo, a narrativa social que vê o corpo da pessoa com deficiência como menos humano. Nós somos vistos como menos mulheres, como mulheres inferiores, das indesejáveis às facilmente abusáveis. E é preciso fazer um escândalo para romper com isso.
O Relatório Mundial sobre Deficiência de 2011 nos informou dados assustadores: indica que a taxa de prevalência da deficiência no sexo feminino é de 19,2% de 12% nos homens. Mulheres são menos cuidadas na infância, nos países menos desenvolvidos, e desenvolvem deficiência como consequência de abusos sexuais e partos mal conduzidos. Nas mulheres negras a violência obstétrica é cerca de 30% maior. Isso é claramente violência de gênero.
Outros dados nos informam como é dura a nossa vida: a taxa de alfabetização global é muito baixa: 3% por cento para todos os adultos com deficiência, e um por cento das mulheres com deficiência. Embora todas as pessoas com deficiência enfrentem enormes obstáculos para obter um emprego, homens com deficiência têm duas vezes mais probabilidade de ser empregado do que uma mulher com deficiência.
As mulheres e meninas com deficiência apresentam taxas mais altas de violência baseada no gênero, abuso sexual, negligência, maus tratos e exploração do que as mulheres e meninas sem deficiência. Mulheres e meninas com deficiência têm três vezes mais probabilidade de sofrer violência baseada no gênero em comparação com as mulheres sem deficiência, em média. Mulheres com deficiência física e cegas, duas vezes mais, surdas, cinco vezes mais, e com deficiência intelectual ou múltipla, nove vezes mais.
Obviamente, só mudamos isso com empoderamento. Por isso, estimulo muito que cada segmento tenha debates de gênero. Fiquei muito feliz com II Encontro Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão, cujo tema será: Empoderamento, Participação e Inclusão Plena de Mulheres com Deficiência Visual. O Evento acontecerá em Recife/PE nos dias 25, 26 e 27 de novembro de 2016.
Um evento que tem por objetivo empoderar, socializar e unir essas mulheres levando informação, entretenimento, diversão e claro, contará com a participação de todas!
Taxa de inscrição: R$ 60,00 (sessenta reais).
Obs: as primeiras 40 (quarenta) mulheres com deficiência visual com inscrição realizada e devidamente confirmada, serão contempladas com o programa de hospedagem e alimentação por conta do evento.
Realização: Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão em parceria com o Instituto Baresi, coordenação do Núcleo Regional de Pernambuco
Contatos: (98) 98494-9511 (claro), (98) 98123-1159 (tim)
E-mail: mbmc.mulherescegas@gmail.com
Clique aqui para fazer sua inscrição. https://goo.gl/forms/jPodGxKPJqFNb8xB3
*Adriana Dias é Bacharel em Ciências Sociais em Antropologia, Mestre e Doutoranda em Antropologia Social – tudo pela UNICAMP. É também coordenadora do Comitê “Deficiência e Acessibilidade” da Associação Brasileira de Antropologia e coordenadora de pesquisa tanto no Instituto Baresi (que cria políticas públicas para pessoas com doenças raras) quanto na ONG ESSAS MULHERES (voltada à luta pelos direitos sexuais e reprodutivos e ao combate da violência que afeta mulheres com deficiência). É Membro da American Anthropological Association, e foi membro da Associação Brasileira de Cibercultura e da Latin American Jewish Studies Association
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